Também era minha convicção que ia haver guerra total, e sem tréguas, entre os Movimentos. Melhor: que a guerra se intensificava após a independência, isto era, dali a pouco mais de vinte e quatro horas: o relógio tinha os ponteiros nas sete da tarde, o calendário assinalava o dia nove de Novembro de 1975. A independência contaria a partir das 24 horas do dia seguinte, zero horas do dia 11. Mas não me parecia que as hostilidades alguma vez atingissem uma tal difusão que fizesse perigar a vida das pessoas em Luanda, que era a capital e, até por isso, tinha de ser preservada dos combates. Só a possibilidade de bombardeamentos aéreos ameaçaria a vida dos habitantes, mas uma guerra dessas características estava fora de questão. Isto relativamente à Luanda integrada, dita do alcatrão, porque na barafunda dos musseques não se podia garantir segurança a ninguém. Portanto, os receios pela criança não se justificavam. Além disso, Suzete meditara no choque da menina privada da mãe? Por melhor que a tratássemos, mais carinhos que lhe fizéssemos, não se cansaria de clamar pela mamã. Seria para nós, eu e minha mulher, um pequeno drama. Pontos Fortes da Obra: 1) Uma história autobiográfica, com alguns elementos de ficção que trata os últimos tempos da presença portuguesa em África, nomeadamente em Angola. A situação política e social, da fase conturbada da descolonização em 1974, com toda a carga emotiva a esta situação associada. 2) O autor é senhor de um estilo literário absolutamente fascinante e com enorme potencial. O livro está repleto de descrições fortes, que tocam fundo na essência do leitor, nomeadamente daqueles que viveram este momento, ou dos que tiveram familiares envolvidos. 3) Este livro possui todos os ingredientes que agradam ao leitor. O autor escreve de uma forma muito acessível, pelo que este livro tem potencial para chegar a um público vasto.
